Uma onda conservadora
atinge o Brasil e em Caxias não é diferente
KLISMAN OLIVEIRA
17/05/2018 21h04
Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Não é novidade para ninguém que elegemos o congresso mais conservador
das últimas décadas. O que surpreende, é ver esse mesmo congresso se refletindo
nas ruas, seja com discursos de ódio ou com reproduções de frases prontas e
falaciosas.
Quem mais tem sofrido com tudo isso, são aqueles que historicamente
sempre foram reprimidos por homens, ricos e brancos: homossexuais, negros, pobres e
mulheres.
Se nos utilizarmos do aborto para retratarmos o direito das mulheres sob
seu próprio corpo e considerarmos uma pesquisa de 2017 realizada pelo Instituto
Datafolha, podemos observar o quão retrógrado é o Brasil neste aspecto. 69% dos
entrevistados acreditam que o aborto é crime. E isso não é o pior se notarmos outro
índice trazido pelo jornal Valor Econômico do mesmo ano, que revela que 28% dos
entrevistados acreditam que uma mulher que realiza aborto merece punição
criminal.
Fonte: Datafolha
Fonte: Ideia Big/Valor Econômico
Os números são parecidos ou ainda mais alarmantes quando tratamos de
punição para crimes graves, 57% da população acredita que a melhor forma de se
punir um indivíduo é através da pena de morte. Como vemos na pesquisa feita
pelo Instituto Datafolha. (CONFIRA AQUI).
De acordo com o professor emérito da USP, José Arthur
Giannotti, para a revista Carta Capital: “Um País que nasceu do Estado,
forjando uma economia escravocrata e mais tarde, muito desigual, só poderia ser
governado por elites cujos acordos excluíam as vontades populares. Há uma
camada que sempre foi extremamente conservadora no Brasil e que agora encontrou
meios de manifestação”.
Outro fator que ajuda explicar a ascensão do
conservadorismo no Brasil é o crescimento das igrejas pentecostais e
neopentecostais, o número de evangélicos cresceu cerca de 60% entre os anos
2000 e 2010. Como revela o levantamento feito pelo IBGE. (CONFIRA
AQUI).
Em âmbito municipal, não há muita diferença com o restante
do País, basta pegarmos a passagem do pré-candidato à presidência da república
e deputado (PSL-RJ) Jair Bolsonaro por Caxias do Sul. O polêmico deputado,
conhecido por sua suas frases homofóbicas, xenofóbicas, machistas, misóginas e
exacerbadas de ódio, foi recepcionado por centenas de apoiadores no Aeroporto Regional Hugo Cantergianni.
Passagem de Jair Bolsonaro por Caxias do Sul/ Foto: Celso
Sgorla/Especial CP
Em sua breve passagem por Caxias, quando questionado sobre
segurança pública, Bolsonaro não hesitou ao dizer: “Arma de fogo mais do que defender a vida de vocês é a defesa da
liberdade”.
Infelizmente o ódio e a intolerância têm
prevalecido em muitos casos como o de Roberto
Carlos Dias, jornalista e secretário de comunicação da Comissão Política do
PCdoB Caxias do Sul/RS. (VEJA AQUI).
Para a vereadora Denise Pessoa (PT): “Caxias do Sul
tem na sua construção uma formação conservadora, essa nova onda, apenas revelou
uma realidade que estava submersa”.
Denise, que em seu mandato preside a Comissão de Direitos Humanos de Caxias, ainda disse: “Parece que é uma doença falar de
gênero, esse ano é ano de eleição e não podemos ir com ‘sangue doce’ porque se
irmos mansos vamos aumentar as bancadas conservadoras que atacam o direito das
minorias e constroem mais desigualdade”.
A classe LGBT tem sentido na pele o conservadorismo
intransigente, seja através de agressões físicas, psicológicas, verbais ou
morais.
O ato de colocar-se no mundo como um indivíduo gay em
uma sociedade conservadora, faz com que a classe LGBT tenha que mudar seus
hábitos para enquadrar-se num padrão social, como revela Augusto Castagna, gay,
21 anos, acadêmico do 7º semestre de Biomedicina pelo Centro Universitário da
Serra Gaúcha: “O conservadorismo me afeta diretamente no contato com as
pessoas, tanto andando na rua, falando com colegas/amigos na faculdade ou na
academia. As pessoas geralmente te olham dos pés a cabeça pelo modo que tu fala
ou age em público. Diariamente é uma luta de tentar parecer o ‘menos gay’
possível para se adequar no que é imposto como normal pela sociedade. Muitas
vezes não me importo com os deboches e olhares tortos que recebo, mas é muito
importante resistir e discutirmos sobre esse assunto. O mínimo de respeito é
necessário!”.
Já, Lucas Marques, 19
anos, gay, estudante de Jornalismo pela Universidade de Caxias do Sul, vê
alguns avanços conquistados pela classe, mas admite que ainda há um longo
caminho à percorrer: “Como gay, me sinto em uma sociedade que ao mesmo tempo
que evolui, volta dois passos para trás. Mesmo que os LGBTs tenham ganhado mais
espaço, seja na política, entretenimento ou social, o Brasil continua como um
dos países que mais mata pessoas da comunidade. Sinto orgulho do crescimento de
nós LGBTs mas sei que o conservadorismo continua a nos matar. Campanhas publicitárias
nos ‘divulgam’ mas algumas ainda nos ‘escondem’, o Brasil é o país de Pabllo
Vittar, drag queen, mas ainda é o país que mais mata transexuais no mundo. A
violência causa medo, causa receio de certas atitudes que gerariam exposição,
mas o medo de apanhar não pode ser maior que o orgulho em ser livre do jeito
que nascemos”.
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